Sombras - Coelhos - Jacarés - Jogo de luz


 

Na parede da sala, lembretes. Na memória, também. Em neon, chamativo, pra nunca esquecer o que marcou ferida aberta mesmo que por fora cicatrizada. Incerteza, semente pra terra fértil em dias de vermelho vivo. Mesmo quando tudo cheira a lavanda e brilha como estrelas que acabaram de nascer, vendavais trazem tempestades invisíveis e avassaladoras. Daquelas que te deixam em dúvida sobre a sua sanidade, sua sobriedade, sua capacidade analítica de todas as pequenezas. O mundo gira ao contrário. Tem onde segurar?


Não se abre guarda de
 castelo sem avisar o dragão. É preciso estar alerta ainda que com muros altos. Prepare a catapulta. Tire a bossa nova desse volume baixinho que deixa tudo mais vazio. Comprou chá? Te extraño. Enquanto João, o Gilberto, ecoa pela casa:  "quem acreditou no amor, no sorriso, na flor, então sonhou, sonhou... E perdeu a paz" Talvez. O buquê de flores secas, na portaria do prédio do viaduto, coloriu promessas em meio a risos e o pedido de mais um beijo. Pela janela, pela vista, esquinas, esquinas. Pelo gosto do que é saber querer. Comeria goiabada com queijo - Shakespeare - clichê.


Fiz a lista do mercado. Tem Pringles. Aquela batata que eu chamava pelo nome de ar condicionado. Coerência não bate ponto. As vezes é confuso, embaralhado, tropego, de sair catando cavaco em calçada da cidade. E tudo bem, viu? Respire, beba algo gelado, deixe o gatinho passar pelos seus pés, esqueça a louça, torce pra moça começar o curso de radiologia e guarda o vidro de azeitona pra colocar a geleia da Rita. Pelo aroma dessa receita é impossível não se apaixonar. Se entregue. Misture manga com maracujá. Suspire. 


Quero dormir a luz de velas. Dançar a luz inversa. Atear fogo em todas as possíveis mazelas. Iluminar a obscuridade. Clarividência, sinais. Rezar por você - em noite que caberia no meu sofá. O tempo é senhor e refém. Ampulheta. Me dá a mão e vamos caminhar na praia? Não tem vento que sopre o que só o coração consegue ver. Sem razão. Mesmo em dias de conversas tortas. Se nutra, acolha, lave, cuide. Pra acordar ao sol, em um novo e diferente escrever.



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