Eu não sou uma mãezona da porra!


Foto @mamahood

Eu não sou uma mãezona da porra!

O máximo que fiz, baseado em crenças de que seria o melhor pro meu filho, foi não dar açúcar até os dois anos, amamentar até os três anos e meio e não dar refrigerante. E isso, não me faz uma mãe melhor, pior, foda pra caralho. Nada!

A maternidade geralmente é intensa, pungente, cheia de culpa e de peso. Mas também é alegria sem fim, sorrisos incríveis e um amor que eu jamais experimentei na vida. E você equilibra os pratinhos. Pende uma hora pra um lado da balança, e outra, pra outro, tentando um equilíbrio que as vezes é quase impossível.

Eu não sou a melhor mãe do mundo. Graças a Deus!

Não sou perfeita, e nunca quis alcançar esse patamar, que é impossível em qualquer campo da vida.
Eu só sigo o que acredito. Faço o que consigo, e as vezes, o que consigo está muito além do que de fato é possível. Mas eu faço, por ele.
Porque eu quero e acho importante fazer, por ele.

Eu sei do que abro mão. Eu sei que já abri mão. Eu sei o quanto é difícil olhar pra ele e não ter a menor ideia se as escolhas que estou fazendo são as melhores pra ele. Porque, né? É óbvio que quero que ele seja feliz. Que ele seja um menino incrível, de coração leve, caráter firme, vida feliz e cheio de amor.
Mas eu sei que errarei. E errarei tanto, tanto que sinto o peso e a culpa, antes mesmo de o fazer.  E como lidar?

Em alguns momentos ele fica no tablet mais do que eu gostaria. É que to tão cansada da semana e a casa está tão bagunçada, que se ele não se focar em algo pra ficar quieto, não consigo organizar nada, e consequentemente, sambaremos em farelo de biscoito e recolheremos louças despencadas da pia. Não tem jeito.

Mas em outros dias, brincamos tanto, o dia inteiro, que ele não tem tempo de respirar. E dorme desmaiado, com sorriso no rosto, pelo dia incrível que viveu. 
Eu tento equilibrar os pratos, já disse.

Não leio historinha pra ele todas as noites. Invento brincadeiras que eu consiga ficar sentada. Faço guerra de armas de água, no meio de um condomínio pacífico, onde todos os vizinhos devem me olhar e me ver como louca. Caçamos juntos Dente de Leão, que ele colhe com brilho no olhar (e eu morro de orgulho). Tento ensinar a nadar, em toda e qualquer oportunidade, porque ainda não posso pagar a natação. Dou miojo. DOU MIOJO MESMO. Dou miojo a hora que eu quiser. E o ensinei a beber bastante água, que é importante pra crescer forte e saudável, que é como ele mesmo diz.

Mas sou julgada pelas escolhas que faço. Pelos outros. Por pessoas que me acompanham desde sempre, por mim, por quem quer que ache que pode julgar o outro. Coisa que inclusive também faço. Já disse que não sou perfeita, né? E vou conversando comigo mesma. Perdoando, ou pelo menos tentando, a minha auto crítica. Tentando mostrar pra quem se abre pra ouvir, que as minhas escolhas tem o sentido que dou pra elas. Porque descontruir a maternidade machista na cabeça de quem te rodeia é um serviço pro outro e pras futuras gerações.

Eu sigo. Às vezes firme. Às vezes forte. E as vezes, chorando o dia todo. Porque o peso das nossas escolhas é só nosso. E tem dia que não cabe em nós.

Ontem ele me disse: “ mãe, quando eu crescer, quero ser igual a você”. E porra, eu fiquei feliz, orgulhosa, realizada e ao mesmo tempo, morrendo de pavor. Porque eu sou tão pouco perto do que ele pode ser. Sou tão pequena perto da grandeza do seu coração. Sou tão falha perto do que poderia ser, pra ele, e por ele. Que ele dizer que quer ser igual a mim, me apavora. Mas enche meu coração de uma micro certeza de que estou no caminho certo. Ou não. Que a balança pende. Sempre.

Ele não é o mais inteligente. O mais esperto. O mais alto. O que desenha melhor. O que já fala milhares de palavras em inglês (aos fucking 4 anos). O que faz yoga infantil, come só comida orgânica e estuda na melhor escola do bairro. E cara, tudo bem. Porque ele tem um brilho no olhar, daqueles que nunca vi em lugar nenhum. Ele tem um coração tão grande. É tão generoso. É risonho. Acorda de bom humor. Tem o temperamento muito parecido com o meu. Aliás, é uma mistura do meu e do pai. O que faz com que eu tenha a certeza de que to fudida, pra sempre.

Ele é carinhoso. Abraça, beija, diz que ama, que sou linda e que o amor que sente por mim é do tamanho do mundo. Tem medo de barata. Questiona se fantasma existe. Me pede ajuda quando não consegue fazer algo. Adora colocar band – aid em machucados invisíveis. E não tem habilidade alguma nas brincadeiras que as crianças propõe no play do prédio (o que nos garante muita risada e muito acolhimento, pois é lindo como eles tem paciência para ensina-lo a crescer, aprender, entender. Sou tão grata). 

Eu sou medrosa. Corajosa. Faço pipoca. Compro a jujuba na padaria. Escolho, meses antes, as roupas que ele pode precisar e que são mais baratas, pra poder comprar. Programo a convivência com as madrinhas. Recebo de bom grado os chamados e convites das mães da creche, afinal de contas, família pequena requer ter amigos. Muitos amigos. Coisa que aprendi com a vida.

Eu penso nele na maioria dos programas que faço sozinha.  Mesmo no samba, em uma noite quente de verão. Ou na praia, sentada no meu horário de almoço. Em um domingo, que estou sozinha em casa vendo um filme. No cinema. Jantando com uma amiga. Lendo um livro. Eu penso nele o tempo todo. Mesmo sabendo que vivo a maternidade fazendo o possível pra entender que sou alguém além dele. Que sou alguém também, por ele.

Ele faz parte do que sou. E não sou uma mãezona da porra.
Graças a Deus!


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