Preciso lavar o sofá!




Não é o que falta. Ou é só o que poderia ser, mas insiste em não estar presente. Na angustia que não sana e no choro, convulsivo, no chão do banheiro. Na vontade de não ouvir ninguém. Sumir. Secar. Fênix. Pra quem sabe, florescer. Pedi perdão para as plantas. Cabisbaixas e tristes. Entendem. Sentem. Sabem que o que não externo, sai em respiração entrecortada, louça suja na pia, sono forçado, exaustão emocional e psíquica. Mesmo que eu ache que vai passar e tenha pavor, de perceber ou prever, que não. Nunca foi tão intenso. Nunca foi tão forte. Nunca foi tão fundo a ponto da falta de controle. A não ser, quando aquele namorado, que tanto amei, terminou comigo em um 4 de Abril, do nada, porque não conseguia lidar com muitas questões ao mesmo tempo. Eu perdi o chão. E adoeci a alma e meu cachorro. Já que planta, eu acho que não tinha.

Implorei ajuda. Pedi pros Orixás. Clamei a Deus. Lembrei de todos os nomes, por ordem, no meio do caos. A vela pro anjo da guarda será comprada na padaria. Preciso encontrar a receita do floral. Voltar a usar a pedra rosa. Limpar o chão da sala. Ter grana pra mandar lavar o sofá. A compra do tapete cancelou. Terça vou refazer. Pode ter um motivo. Vai saber. Que a gente não sabe de nada. Só sofre feito bicho, que sente o cheiro das coisas de longe. Pressente o perigo, arrepia o pêlo, desconfia, se blinda. Não sei ser escudo. Apesar de não conseguir acreditar em mais nada. Nem sei que cor de pílula escolher. Limbo. Mesmo não sendo o melhor lugar, talvez fosse abrigo.

Estar com a minha mãe, no feriado, será fugir de todos as questões que rodopiam, feito vendaval, aqui dentro. Fugir, no colo dela, seria local sagrado. Não consigo decidir. Primeiro, colocar edredom limpo na cama. Arrumar as roupas no armário. Fazer parecer bonito e organizado por fora, pra, quem sabe, ficar por dentro. Que tá uma merda mesmo. E não tem palavra bonitinha que possa substituir o que precisa ser dito. Nem bombom chique que derrete na boca. Ou promessa de abraço vazio. Pote pra encher. Apelido fofo. Agonia. Projeção. Pipoca de quatro reais, que compro pra ter com que me ocupar no caminho de casa. O moço já sabe o número do meu ônibus, e corre, pra fazer o pacotinho, quando o avista de longe. Coisa boa essa do cuidado com pequenas coisas. 

Tenho, exatamente, oito minutos pra terminar esse texto. Pra tentar concluir o que precisa de tanto. De olhar profundo. De cuidado e observação. Coisa pra uma vida inteira. Que fosse feito mágica. Virar a noite, tomar um vinho, rezar, jogar ao vento e pronto. Se desfez. Resolveu. Revolucionou. Tem cor vibrante. Pedaço de bons caminhos. Certezas. Apesar de que, tenho tudo isso. Não é sorte. Mereço. Só não sei como pegar pela mão. Trazer pra mim. Sorrir sem chorar. Acreditar em unicórnios. Na música que toca. No que grita e sufoca. No que não me deixa ver com clareza.  Mas terça tem praia. Que seja força e esperança. E que o furacão passe. Encontre outros vilarejos. Siga em frente. E leve com ele tudo o que for dor. Não tem remédio que cure o que dói no coração.





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