O que eu sinto depois de um dia feliz!




Plana, levita, porque ver dentro é dor profunda. Atravessa a rua, de vermelho. Um fantasma. Ser mitológico. Inalcançável. Escondida em um buraco negro. Morrendo de medo de qualquer coisa que possa dar certo. Mesmo querendo que dê.  Senta na praia. Na areia. Sente o sol. Entende que deve ser um pouco inusitado estar ali, num espaço de felicidade que talvez não seja seu. Chora pelo que não consegue sanar. Respira pra parar. Alguém pode ver. Pede ajuda. Tenta. A conversa com a rainha não sai. O canal não se abre. Parece exigir demais. A plenitude da inexistência é palpável. E dá uma vergonha danada sofrer por querer algo tão bobo. Companhia e alguém que te fale de amor.  É desespero, dizem. Seja feliz com você, escuta. Foque no que te faz bem, escrevem. A busca está dentro de você. Sorri.

Perna bamba sem conexão é vazio. Ele não tem culpa. É só anseio pelo que tanto se quer construir. Não sei onde encontrar forças. Botão no automático. Não ligo se não tem comida na geladeira. Torrada resolve. Álcool, também. Mas controlo. Porque o medo dos números na balança é maior que o que pode inebriar o gim. Vejo a casa de janelas grandes. O olho brilha. Não sei como, um dia, posso ter um lugar assim. De olhar pra fora e ver luz. De chão de madeira. De filho com espaço pra correr e espalhar brinquedos. Pra eu brigar e guardar. Pé descalço. Plantas. Uma rede. Cor de parede bonita. Desejo consolidado. Mas tão distante e, talvez, impossível de realizar. Frustra. Amedronta. Desanima. Falta o ar.

Falar com antigo amor do tempo de escola é um bálsamo. Serve mesmo pra dizer tudo o que deveria ter sido dito aos 17. Se eu tivesse tido coragem pra isso. Desde lá eu já não merecia. Desde antes. Vem de sempre. Mas mandei a “nossa” música e ele riu, acho.  Tem o velho discurso de “ eu não tenho mais coração”. Só vejo medo e proteção. Sempre foi assim. Colecionava remédio de nariz e uma ironia deliciosa, que me fazia suspirar. Mas não foi. Tudo bem. Foi sempre lembrança boa. Sensação de falta. Pendência. Será bom abraçar. Mesmo que ele fuja desesperadamente. Fingindo não se importar. E vamos rir. Tenho certeza. Vai parecer que foi ontem. Apesar de tudo. De toda a vida que aconteceu. É assim mesmo. O peso das coisas se faz por si só. E a vida se abre em caminhos. Mesmo que se tenha dúvida de qual seguir.


Rita Lee canta no meu ouvido. Biografia das boas, pode apostar. Revejo o passado. Se pudesse escolher, aceitaria os mesmos desafios. Mas faria uns upgrades, que a gente não é bobo nem nada. Se der pra melhorar na próxima, por que não? Então toca a música que você cantava aos três anos. Numa varanda de casa verde. Em uma cidade, que você não sabia ainda, seria sua por uma vida. Uso o sujeito, a primeira e terceira pessoa. Falo dele, deles, de mim. de uma quantidade de sentimento que não cabe. Escrevo. Pra não dar tanto trabalho pra coitada da terapeuta. Hoje é o primeiro dia. E acho, que pelo menos pra ela, não será lá muito bom. Me desejo sorte. Vou precisar.



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