O Sol entra em Aries
Eu faço gosto do amor. Das pequenas coisas. Das flores
colhidas, sorrateiramente, em canteiros. Das músicas bregas. Da poesia da
saudade. Dos gestos e da sensação cafona de borboletas no estômago. Enquanto
ouço Marisa cantar: “ eu só quero que você saiba, que estou pensando em você”,
percebo que gosto do afeto. Do cuidado em não colocar cebola na comida. Das
mensagens, no meio da noite - pra dizer o que o coração não aguenta esperar.
Ah, e como é lindo reconhecer no outro
motivo de brilho no olhar, aconchego, casa, soma. Que realça a beleza de dias
de chuva. Das brandas. Fazendo barulhinho no telhado, pra ajudar a dormir.
O amor é prisão. A entrega do amor te faz pertencer ao
outro. Você perde a razão, o prumo, o foco. Orbitar ao redor de alguém é
comportamento usual ao se relacionar. Não amar te faz livre... Essas, e uma
infinidade de afirmações, as quais tenho lido nos últimos dias, tem feito da
minha cabeça “Globo da Morte”. Giram e se arriscam em um universo particular
tomado pela crença no afago. Rodopiando e parafraseando Francis Picabia “ A cabeça é redonda pra permitir ao pensamento que mude de direção”, tento enxergar
por outro prisma. Analiso, contemplo, avalio. E me questiono sobre a
ambiguidade do se relacionar. Porque se amar é mudar o coração de lugar, esse
lugar é sinônimo de perigo, cautela, receio e insegurança?
Pra mim, amar é abrir portas. Contar desejos. Mostrar fotos
da infância. Ouvir música lembrança. Cicatrizar. Expor. Misturar. Inventar apelidos.
Se queixar da ausência. Compreender realidades distintas. Adequar expectativas.
Dar as mãos. Auxiliar no caminho. E mais uma gama gigante de possibilidades. É
isso, amor é possibilidade. De abrir caminhos. De aprendizado. De entrega. De um
mundo novo. Dentro do mundo que já é comum e real pra você. O que não quer
dizer que seja fácil. Que seja leve e tranquilo pra todo mundo. Que seja conto
de fadas. Coisa que, inclusive, nem deveria existir. O amor só é! Só é!
Então você reza. E torce por um amor suave. Que deixe as
pernas tremulas. Cause suspiros. Clareie o outono. Traga vento fresco e faça
florescer terra fértil. O amor das pequenezas. Do depois. Que te ajude a
acreditar em construção. Goste de cheiro de canela. Leia livros bacanas. Traga
chocolate e compreensão. Que te ensine a ser melhor. Cante um samba de
madrugada. Mude letras de canções batidas. Traga paz e revolução. E saiba que você não precisa ser salva. E aceite
a força das suas escolhas. Enquanto faz massagem no seu pé.
Que o amor seja de morder! Pra sentir gosto. Abocanhar. Ser inteiro.
"Entre por essa porta agora.
E diga que me adora
Você tem meia hora pra mudar a minha vida
Você tem meia hora pra mudar a minha vida
Vem, vambora?"
O sol entra em Aries. A gente precisa aproveitar.
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