O Besouro e as plantas
Mudo a proteção de tela. Um tigre furioso. Mostro os dentes.
Mando a merda mentalmente. Perco o tesão, interesse, vontade, desejo.
Ouço a música decorada. E só sei porque ouvia em looping. Pra
aproximar. Construir minimamente. Como borboleta de origami. No estômago. Das que
voam e povoam pés de maracujá. Bebo água. Dizem que ajuda. E sinto o queimar do
estômago roer profundamente. Enquanto dói o que é comum e mistura, por aqui,
todos os ânimos. Esfregar sua cara no muro de chapisco seria opção. De nada serviria.
Força feita atoa. Não tenho tempo. Talvez, pra um filme.
Mas que não dure duas horas e meia. E não me faça chorar. Tô
de saco cheio de sentir. Tem muro e desesperança. E uma parca tentativa de
socorrer ou camuflar sentimentos não resolvidos. Filtrar é passar pela peneira.
Mas é preciso saber o tamanho do buraco. Por aqui ta passando tudo.
O cara do Correio foi grosseiro. Desconsiderei. Como quem
acha que fingir que não viu ajuda a esquecer. E apesar do jogo de dominó
encontrar sempre o par correspondente, eu não sei se é possível pegar as peças
certas. Enquanto isso, passo a mão, vejo vídeos engraçados do carnaval. Dos
quais não lembro - o que é uma pena. E gravo áudios chorosa com saudade e
pedido de perdão. Pela amizade querida. Pela ausência de caminho. Pela distância.
E por tudo que ficou tão além. Mas ainda assim, me irrito com as fotos
estranhas. Com o jargão que não existe. Com as surpresas esdrúxulas e com a
moça do metrô que nunca desce e me obriga fazer mais da metade do caminho pro
trabalho em pé. Custa descer na Central, ou pelo menos na Uruguaiana?
A Arruda morreu afogada. Ou sem água. Ou porque a casa fica
quente demais nas tardes desse verão meio doido. Enquanto isso, passarinhos
cismam com a minha cozinha. Gravetos pelo chão e, talvez, um ninho. Não faço
ideia de onde esta sendo construído. Dão rasantes na minha cabeça. E quebram
vasinhos que decoram a janela. O que era sorte, tá me deixando irritada. Então sonho
com paredes de vidro. E dinheiro o suficiente pra produto de limpeza. Deixar brilhando
pra ver o que se esconde, deve dar trabalho. Menos na casa do Caio Blat. Cresce
árvore por dentro e tem muitos sofás. Invejei talvez mais que os livros. Deve ser
bem rico todos esses sofás. Meu olho brilha por almofadas e pesquisas no
Pinterest.
Is this the Sunrise. Quando toca na pele e aquece escudos. Trechos
de livros martelando a cabeça. Impossível que a primeira infância seja responsável
por como a gente ambiciona o amor na fase adulta. É desonesto. Desleal. De uma
sacanagem que não tem tamanho. E nem calcinha esquecida em local não apropriado.
Jorja maltrata. Tomo café. Quero aquele grupo de amor livre. Tenho certeza de
que não dou conta. Fecho as portas. Escrevo, escrevo, escrevo. E discuto sobre síndrome
do impostor. Sem colaborar grande coisa. Mulheres juntas crescem. Homens, nada.
Nadam no vazio das emoções não ensinadas. Das questões não vividas. No vazio do
que não se permitem. E são sós!. S.O.S. talvez!
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