Quando o que você joga fora é só o que te falta.
Papel e caneta. Rascunha o que te aflige. Desenha casa, gato
de oito, grama com flor vermelha e amarela. E o lago com pato, que é pra ter
cara de fazenda. De mansidão das coisas simples e inocentes. Do imaginário que
permeava a primeira série. E ainda permeia, que desenhar casa é passatempo
preferido. Com telhado marrom, janela de cortina rendada e chaminé com fumaça.
Comida é jeito de amar. E adoro conquistar pelo estômago. Com bolo, brigadeiro
e cafuné. Que não é comida pro estômago, mas é pra alma. Tenho certeza.
As relações são frágeis. Não importa a dor do outro. Tem
coração ali? O que importa é o que preciso. O que posso tirar daquele que tem
algo pra dar. Pra suprir as minhas ausências. A falta de amor próprio. Minha
auto rejeição. Não me adapto, não me vejo aceito. Não me aceito ver. Que tudo
em mim é vazio, confusão, solidão, perda e escuro. Sem luz em um buraco tão
fundo que morcegos são personagens bobos de filme do herói preferido. Os fantasmas
são maiores. Amedrontam, machucam, maltratam. E o mínimo que posso fazer, é não
saber lidar e ferir o outro. Sentimentos não são bem geridos nessa massa torta
de confusão.
Posso até sentir borboletas no estômago. Mas é sensação passageira.
Posso até sorrir com uma caixa que chega do correio. Mas é só imediatismo. Posso
ouvir uma música. Achar que é incrível. Mas nada me toca de verdade. Sou profunda
escuridão. E machuco pessoas. Porque é assim que sou. Não quero mudar. Não me
importo. Não me incomodo. Só por cinco minutos. Depois... passou. Coloco na
lixeira do prédio. Independente das promessas. Que nada faz sentido e tem
significado. Nem as minhas cadeiras amarelas, que fazem par no meio da casa. Mas
são sozinhas, assim como eu. Não se encaixam.
O singular. A terceira pessoa. A voz que dou pro que não me
pertence. É raso, vazio, sem cor. E assusta. Assusta muito. Então olho pro nada,
perplexa, e penso: “ como pode existir alguém assim? ”. Existe. Tem endereço,
matrícula na academia, tapeware embaixo da pia, mate na geladeira. E uma
tristeza tão grande que não cabe em nada. Em quem queira dar amor. Quem
queira pertencer. Quem queira ser amigo pra vida. Quem queira rir de piada
boba. Não cabe. Porque quem não sabe se dar, não merece receber. Esgota
o que o outro tem pra dar. E por aqui, a lágrima esgotou. O tanque ficará
vazio. Nunca ninguém irá encher. Sinto muito por você. Sorrir, é remédio. E faço isso, nesse exato momento.
Concordo que há dias que são absoluta escuridão, em que até um singelo bichano fica parecendo uma fera pronta pra avancar. Mas acredite: aquele amor e carinho que menos esperamos vem de um simples "dormiu bem", de um "sonhe com os anjos", de um "fique feliz", de um "passando pra te dar um beijo". E sem nada em troca, simplesmente. São esses gestos que nos levanta e nos faz acreditar que tudo vai melhorar.
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