Hoje tem feira. Tem pastel




Eu quero falar de outra coisa. De livros de romance. Da Fera que dançava na festa infantil de sábado como se a vida fosse simples e tivesse nossa cor preferida. Da música que se chama Best Part. Do olhar do meu filho pro chinelo novo. Ele, que me deu uma flor e adorou se proteger embaixo do meu casaco, me ajuda a perceber que amor se mostra em coisas simples. Até em salsichão do tio que tem no caminho. Eles sempre se falam. E ele sabe exatamente o que pedir. Come o dele e o meu. Que eu não sei como cabe naquela barriga. E ainda tem o jantar. O sorvete. E o que mais eu deixar comer. As vezes o que a gente precisa é se perder no vazio. Nem que seja no vazio da barriga de criança faminta.

Troco o anel de dedo. Tá caindo. Feito queda em precipício. Sem fim. Eu seguro antes que vá. Porque perdas deixam espaços doloridos. Não tem como serem preenchidos na ausência da hora do café. Criar rotina e encaixar possibilidades pode ser caminho sem volta. Você sente falta. Tem vontade de ter de novo. E não dá o braço a torcer porque tem mais o que fazer do que arrastar sua dignidade no muro de chapisco. O silêncio é resposta. Tanto o que você recebe, quanto o que você dá. Mesmo que você queira gritar aos quatro cantos como sente falta de todas as expectativas criadas. De todas as promessas veladas. Do ombro largo que aparecia em vídeos no meio do dia. Que droga. Que droga.

Mas mesmo sem querer, a noite se fez boa. O cuidado, gentileza, ajuda pra ajustar o que ainda não é feito com primor. A gente encontra redenção em locais improváveis. E recebe mais do que merece, na maioria das vezes. Porque o presente é embalado em papel colorido, com laço de fita. E é tão bom poder aproveitar. Deixei a camiseta na portaria do prédio. Trouxe roupa pra trabalhar amanhã. São quase dez da manhã e já morro de frio. Mas ainda tem gosto de desejo na boca. Constatação de que já é tempo de deixar passar. Porque sou muito pra um mundo tão insatisfeito. E viver assim deve ser horrível. Eu tentei ajudar.

Tenho dias ruins. Daqueles que rola aconchego de sofá e vinho pra aplacar. Mas tenho vontade de vida. De sorrisos soltos. De brilho no olhar. E sigo, passando por cima, aprendendo, lutando, tornando melhor o que consigo mudar. Que sou feita de estrelas. Quero e preciso brilhar.

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