Uma janela de coração
Ouço, repetidamente, a música que descobri.
Canto mal, e todo mundo sabe. Mas a letra em inglês, que só
me soa bem depois de cerveja, vinho ou vodka, desliza pelos meus lábios. Tenho conseguido
cantar.
E como pão com manteiga, misturado com ansiedade, vontade, xis
nos dias do calendário, mensagens não lidas, programa de final de semana na
casa da mamãe. Que agora temos essa nova rotina. A de fazer a nossa relação,
mãe, avó, neto, filho, fluir. Depois de tantos anos e toda a distância. Mesmo com
medo e, mesmo sabendo, que em alguns momentos, as faíscas vão rolar. Que mãe e
filha, discutindo por causa de mimo de neto, é o que não vai faltar.
Eu quero pintar as folhas do vestido. Que com cor tudo fica
mais bonito. Quero falar pro carinha, que me manda mensagens aleatórias, que
ele não tem a menor chance de me ver de novo. Que ele, apesar de tudo, é chato.
E gente chata, não merece nem cinco minutos da minha atenção. Molhar as plantas
é muito melhor. E faz minha casa ficar mais linda, verde e cheia de amor. Tudo é
melhor com amor. Até beijar gatinhos, telas de smart phone, desenhos de coração
e girassol que o filho traz da escola. Será que o amor tem gosto de café?
Ainda sinto o cheiro do mar de Lisboa. A sensação do vento. A
temperatura do sol quentinho, depois de sair de um comboio. É que tá perto de
fazer aniversário da minha data de ida, sabe? Eram tantos os planos, os sonhos,
as coisas pra realizar. E foi tão lindo. Tão forte. Tão bacana. Que ser grata é
o mínimo. Mais ainda dói. E dói tanto que eu finjo não me importar. E não
sento, chorando no sofá, em sábados à tarde pra acalmar. Acho que nunca vai
passar. Só amenizar. Que dor de alma é companhia constante, feito tatuagem na
pele. Faz parte.
Gosto de pertencer. Ser. Ter. Nessa troca insana de poder
consentido. SSC. Que é sigla que ainda vou tatuar. Em cantinho escondido. Onde
só quem vale a pena, poderá enxergar. Que ver é caminho sem volta e se
reconhecer, espelho.
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