Eu não vou fugir!

Hoje eu conheci a Socorro.

Já a havia visto algumas vezes no ponto de ônibus. Mas hoje, ela chegou puxando assunto. Falou de várias coisas. De como gosta de cuidar da casa, de ter tudo limpo e de deixar as plantas verdinhas. “Porque elas ficam lindas, sabe? E eu gosto de olhar as coisas todas arrumadinhas e saber que fui eu que organizei. Inclusive, conversei com Deus e disse: eu não estou idolatrando as plantas, não tá? Eu só gosto de ver tudo lindo assim”.  E quem não gosta, não é?
Vinicius falava sobre isso, apesar de concordar em partes. Porque o belo pra mim, pode ser o estranho pra você. Beleza é algo muito particular. E pra Socorro, são plantas verdinhas, olha só!

Meu ônibus chegou. Ela perguntou: “ você gosta de ler?”, com brilho no olhar respondi que sim.  Trouxe um livro de presente na bolsa.

E assim começou o dia!

A parte onde o despertador tocou por meia hora e eu não ouvi. Que meu filho tropeçou e ralou o joelho achando que a perna ia cair. Onde a casa está absolutamente um caos e eu preciso colocar mil coisas no lugar. E a mensagem que eu mandei com muita coragem, não ter sido sequer lida, por desdém, ah tudo isso pode ser deixado pra lá. Eu conheci a Socorro, que gosta de plantas, acha que o mundo é muito bonito e deu um livro pra me agradar.  Acho que é desse ponto que devo começar.

Não quero falar de expectativas. De mergulhos em lugares que me amedrontam. Em saudade que não tem como matar. Em conta que pode vir com muito mais que 10% no final. No receio. Nas coisas já ditas mas que eu quero fingir não escutar. Nos sonhos que eu não tenho coragem de realizar. Por que, afinal de contas, eu nunca fui dançar?

Sei que vou pagar um preço alto. E quero fugir. Correr o mais rápido que puder. Me esconder em caverna escura e cheia de morcegos. Que é uma analogia idiota a qual eu não posso explicar. Porque quero me salvar, mesmo sabendo que já não dá!

Eu não vou fugir!