Tua Boca tem um céu

Você é forte. É fortaleza. É faixa estendida no meio da rua pra mostrar que é feliz só. E bate no peito, com força, pra dizer que só se é feliz sozinho.

Amor não cabe. Gradeou os espaços. Substitui por medo. Tem pavor de não ter mais o que pode te fazer bem. Você sente como eu. Mas se fechou. Que abandono é coisa que você não quer mais viver. Mesmo sabendo que isso não se pode controlar.

Senta no chuveiro. A água que cai,  tenta lavar o que não sai nem a fórceps. É difícil, né? Eu sei o quanto é. Mas hoje, na hora do almoço, recebi uma notícia que me baqueou. Um amigo muito querido de um antigo trabalho se foi. Era gentil, engraçado, um cara com um enorme coração.

Enquanto ouvia sobre sua partida, boquiaberta, confirmei o que me movimenta: a certeza de que a vida é tão, mas tão breve, que não se deve temer viver. Porque o medo paralisa e te impede de aproveitar os segundos desse presente que a gente pode e deve ter.

Eu morro de medo de tudo. Tenho medo do amor. Medo da dor. Medo de coisas ruins acontecerem. Medo do meu filho não me amar. Medo de ter aberto mão de coisas que um dia façam muita diferença na minha vida. Medo de barata. Medo da perda de gente importante pra mim. Medo de não dar conta das coisas que sinto e as vezes não consigo suportar. E o meu principal medo é não acreditar. Não acreditar que eu tenho coragem o suficiente pra seguir. Não acreditar que mereço felicidade. Não acreditar que o que é bom pode vir.  Eu te falei que sabia como era difícil, não falei?

Então, apesar de todos os meus medos, quero que saiba que te desejo um colo firme e aconchegante. Que um dia a água lave e leve o que não mais te cabe. Que segurem com força a sua mão, e que você tenha todas as certezas das quais precisa. Que as cicatrizes do seu coração parem de sangrar. Que você sorria muito, igual depois da academia. Ouça músicas incríveis passadas por mim. Coma comida gostosa da sua tia. Equilibre. Pra ser sempre ser par, mesmo que sozinho. Que ser par da felicidade deve ser absolutamente bom, né?