eu seguro a sua mão
Meu pai me abandonou.
Mas ele não abandonou só a mim. Ele abandonou uma mulher de
22 anos, que foi sozinha pro hospital parir.
Abandonou mais que a mim. Abandonou a minha mãe. Tirou dela
a chance de sair com as amigas de vez em quando. De dormir até mais tarde nos
finais de semana. De não ter que ter três empregos pra me sustentar sozinha. Tirou
dela roupas novas, móveis mais bonitinhos, viagens que poderiam ter sido
incríveis, mas que o dinheiro era usado pra pagar meu plano de saúde.
Ele tirou dela uma vida financeira mais equilibrada. Um chopp
no final da tarde. Um suspiro de: “Ufa, agora eu posso relaxar”. E eu só
entendi isso depois que fui mãe. Porque depois que fui mãe, dentro das
dificuldades que uma maternidade, inicialmente auxiliada traz, encarei o
passado com um olhar mais crítico e senti o quanto ela perdeu. O quanto a
ausência de responsabilidade, pelo menos financeira (que a emocional a gente não
obriga, né?), mudou o rumo da vida que ela poderia ter tido. Da que nós poderíamos
ter.
Cresci entre trancos e barrancos com meu pai. Aos 14 anos já
rompia relações. Parava de falar. Cobrava, discutia, exigia um cuidado que ele
nunca conseguiu me dar. E eu, que nunca fui flor boa pra se cheirar (meu gênio
é forte, mas o santo e o coração, bons), olhava pra ele com mágoa, desprezo,
tristeza pela forma como ele criava as minhas irmãs... A imagem dele continha
uma lista enorme de: O que eu não quero ser quando crescer.
Essa não relação, e todos os perrengues que passamos juntas,
minha mãe e eu, me fez não acreditar merecer amor. Eu não merecia amor. Eu não
acreditava no amor. Eu não acreditava em relações homem X Mulher. E me libertar
disso, dessa crença profunda e tão enraizada, é exercício diário. É degrau de
escada longa. Que a gente vê lá em cima, mas sabe que tem ainda muito o que percorrer.
Eu inicio qualquer coisa esperando o fim. Esperando o
momento do abandono. Esperando a hora que vai acabar. Porque se meu pai me
deixou. Se foi fácil pro meu pai me deixar, porque pra outra pessoa não
será? Mas é ai que entram os meus
amigos. Ai que entra o “ativo” mais incrível que Deus, a energia divina, ou o
que quer que exista resolveu me dar. Porque eu sei que eles não vão. Eles
estão. E me ajudam a entender que nem
todo mundo vai te abandonar. Que sim, muita gente vai te amar. Muitos vão
entender quem você é. Muitos vão admirar quem você é. E muitos vão ficar!
Eu te dou a mão. Eu me dou a mão. E vamos juntos caminhar. Porque
abandono não faz casa em coração forte e compassado. E seguir junto é sempre muito
melhor.
Eu perdoei meu pai. E seguimos. Seguimos!
Ele perdeu demais. Porque eu sou absolutamente incrível.
Fiquei extremamente feliz em saber o quanto você é incrível e bem resolvida.....vida que se segue minha linda. Bjos.😍
ResponderExcluirInfelizmente não escolhemos os pais que temos, a vida tem dessas. Mas o perdão é um passo importante para que eles vejam o quão incrível nós, os filhos, somos. E serve de aprendizado para que cuidemos de nossos filhos com todo amor do mundo.
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