Vem, me dá a mão e me ajuda a dormir?



Eu queria dormir cedo
Mas tinha a louça e as gelatinas, que tinham cores e cheiros de amor.
Eu queria dormir cedo
Mas tinha a Maria, com suas cartas que me faziam sentir saudade de pessoas que nunca conheci.
Eu queria dormir cedo
Mas o Pedro - que chegou na minha vida hoje e já tenho dentro do peito – estava cantando e fazendo da noite fresca um lugar de poesia e flor.

Eu queria dormir cedo
E tentei.
Apaguei as luzes, deitei no sofá, e ouvi baixinho acordes que me levaram tão longe que quase não consegui voltar.
Então tive medo.
Levantei.

Eu queria dormir cedo
Mas dancei sozinha na cozinha a dor dos amores não vividos. Das promessas não cumpridas. Do beijos não dados. De todos os buracos.
E rodopiei, de olhos fechados, até a música acabar. Então dei replay. Replay. Replay. Que insistir no que não vale a pena faz parte das minhas cabeçadas na vida.
Eu queria dormir cedo
Mas piquei morango, fiz uma bebida e gelei feito coração bandido e sombrio. Que depois comi com colher. Desperdiçar fruta madura é macerar coração. Se é que ainda tenho um.

Eu queria dormir cedo
Mas a berinjela maior estava toda cheia de bichos. E era tão linda. Então, não pude deixar de comparar. Contos de fadas, sorrisos bonitos, promessas. E por dentro, nada que sirva. Tem muitas pessoas que são assim. Exatamente assim.
Eu queria dormir cedo
Mas o edredom, com cheiro de amor, me fez lembrar o quanto é bom ser cuidada.

Eu queria dormir cedo. Mas não vou. Estou aqui!


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